segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma Declaração de Independência do Ciberespaço por John Perry Barlow

Governos do Mundo Industrial, vocês gigantes enfadonhos de carne e aço, eu venho do espaço cibernético, o novo lar da Mente. Em nome do futuro, eu peço a vocês do passado que nos deixem em paz. Vocês não são bem-vindos entre nós. Vocês não têm soberania onde nos reunimos.

Nós não temos governos eleitos, nem seria plausível para nós ter algum, assim, eu me dirijo a vocês sem autoridade maior do que aquele cuja liberdade sempre fala por si. Eu declaro o espaço social global que estamos construindo sendo naturalmente independente das tiranias que vocês tentam nos impor. Vocês não tem o direito moral de nos governar e vocês nem possui métodos de coação a que tenhamos uma razão real para temer.

Os governos derivam seus justos poderes do consentimento dos governados. Vocês não solicitaram ou receberam o nosso. Nós não convidamos vocês. Vocês não nos conhecem, nem sabem sobre o nosso mundo. O espaço cibernético não se limita às suas fronteiras. Não pensem que vocês podem construí-lo, como se fosse mais um projeto de obra pública. Vocês não podem. Isto é um ato da natureza e cresce por si próprio através de nossas ações coletivas.

Vocês não se comprometeram com nossa grande reunião do diálogo, nem com criar a riqueza dos nossos mercados. Vocês não conhecem nossa cultura, nossa ética, ou códigos falados que já proveram à nossa sociedade mais ordem do que poderia ser obtida por qualquer das suas imposições.

Vocês alegam que existem problemas entre nós que vocês precisam resolver. Vocês usam essa alegação como uma desculpa para invadir nossas áreas.Muitos desses problemas não existem. Onde existirem conflitos reais, onde existirem erros, iremos identificá-los e resolvê-los por nossos próprios meios. Estamos formando nosso próprio Contrato Social. Essa maneira de governar surgirá de acordo com as condições do nosso mundo, não do seu.Nosso mundo é diferente.

O espaço cibernético consiste de transações, relacionamentos, e do pensamento em sí, como uma onda parada na rede das nossas comunicações. O nosso mundo está em todos os lugares e em lugar nenhum, mas não é onde as pessoas vivem.

Estamos criando um mundo que todos poderão entrar sem privilégios ou preconceitos de raça, poder econômico, força militar ou lugar de nascimento.

Estamos criando um mundo onde qualquer pessoa, pode expressar suas crenças, não importando quão singular sejam, sem medo de serem coagidos ao silêncio ou conformidade.

Seus conceitos legais sobre propriedade, expressão, identidade, movimento e contexto não se aplicam a nós. Eles são baseados na matéria, e não há nenhuma matéria aqui.

Nossas identidades não possuem corpos, então, ao contrário de vocês, não podemos receber ordens por meio da coerção física. Acreditamos que a partir da ética, esclarecido interesse próprio e o bem comum, nossa maneira de governar surgirá. Nossas identidades poderão ser distribuídas através de muitas de suas jurisdições. A única lei que todas as nossas culturas constituídas reconheceriam é a Lei de Ouro. Nós esperamos ser capazes de construir nossas próprias soluções a partir deste fundamento. Mas não podemos aceitar soluções que vocês estão tentando nos impor.

Nos Estados Unidos, vocês estão criando uma lei, o Ato de Reforma das Telecomunicações, que repudia sua própria Constituição e insulta os sonhos de Jefferson, Washington, Mill, Madison, DeTocqueville e Brandeis. Agora, esses sonhos precisam nascer novamente em nós.

Vocês estão apavorados com suas próprias crianças, já que elas nasceram num mundo onde vocês serão sempre imigrantes. Porque têm medo delas, vocês incumbem suas burocracias de responsabilidades paternais, já que são covardes demais para se confrontarem consigo mesmos. Em nosso mundo, todos os sentimentos e expressões de humanidade, desde os mais humilhantes até os mais angelicais, são partes unidas de um todo, a conversa global de bits. Não podemos separar o ar que sufoca do ar sobre o qual as asas batem.

Na China, Alemanha, França, Rússia, Singapura, Itália e Estados Unidos, vocês estão tentando repelir o vírus da liberdade, erguendo postos de guarda nas fronteiras do ciberespaço. Isso pode manter afastado o contágio por um pequeno tempo, mas não funcionará em um mundo que em breve terá a mídia baseada em bits amplamente.

Sua indústria da informação cada vez mais obsoleta perpetuaria a si mesma propondo leis na América e noutros lugares, que afirmariam seu próprio discurso pelo mundo. Essas leis declarariam idéias como sendo mais um produto industrial, não mais nobre do que ferro-gusa. Em nosso mundo, qualquer que seja a obra que a mente humana possa criar, ela pode ser reproduzida e distribuída infinitamente sem nenhum custo. O transmissão global do pensamento não exige mais suas fábricas para se consumar.

Essas medidas cada vez mais coloniais e hostis nos colocam na mesma posição daqueles antigos amantes da liberdade e auto-determinação que tiveram de rejeitar a autoridade dos distantes e desinformados poderes. Precisamos declarar nossos carateres virtuais imunes à sua soberania, mesmo se continuarmos a consentir suas regras sobre nossos corpos. Vamos nos espalhar por todo o planeta, então ninguém consigirá aprisionar nossos pensamentos.

Nós vamos criar uma civilização da Mente no ciberespaço. Que seja mais humana e justa do que o mundo que seus governos fizeram antes.

John Perry Barlow <barlow@eff.org>

Davos, Suíça

08 de fevereiro de 1996

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